Primeiro há o encontro.
Você, a ideia, o flerte.
A ideia te fecunda, o texto vira zigoto. A gestação é incômoda, o zigoto, que agora já é feto, quer ganhar a vida e os chutes muitas vezes não te deixam dormir. Ainda assim, seu coração é tomado por um amor que só uma mãe consegue sentir. Quando esse amor te preenche por completo é sinal de que o bebê-texto está pronto. E então dói. Dói dor de parto. Dor tão querida que é recebida entre sorrisos e lágrimas.
Na maternidade de papel, o lápis desenha em forma de palavras os parágrafos do filho amado. Depois do árduo trabalho de parto, vem o prazer imensurável de conhecer o seu bebê. Vê-lo pronto e perceber que ele tem muitos traços da ideia, mas se parece mais com você.
Então, de repente, ele parece frágil demais, precisando amadurecer, e você, mãe superprotetora, o coloca na incubadora do criado-mudo. Vê-lo ali, tão pequeno e solitário, desperta uma espécie de depressão pós-parto. Passado algum tempo, ao olhar para ele de novo, você, mãe amadurecida, percebe que ele está pronto e apresenta-o ao mundo. E ele vai... Vai para os braços de outros, que ao contrário de você, mãe coruja, nem sempre são muito gentis e quase sempre são muito críticos. Mas os textos, assim como os filhos, são criados para o mundo e não para o criado-mudo.
Porque todo parto é assim, reparte sua alma em duas partes: Uma é orgulho, a outra, saudade.
(Em parceria com Cássia Costa)