Hoje parecia que o relógio estava parado e eu estava presa em uma dimensão do tempo em que só havia eu, você e a dor.
Como sempre. Mas você era uma criação minha, eu era uma criação minha e a nossa dor era o que fazia aquela dimensão parecer tão real, embora também fosse uma criação minha. Abracei meus joelhos e me vi um
feto, ainda preso ao útero, sem poder sair. Estava em posição
fatal e meu coração tremia. Minhas mãos estavam tão frias que até meu próprio toque doía em mim. Geralmente era você que me cuidava quando essas coisas aconteciam, mesmo quando eras o culpado. Gostaria de saber como estás, mas não tenho coragem de ir atrás de você... Não depois de minha última carta. Te pedi que não voltasse, que não se atrevesse, não posso ir até você. Até porque estou presa. Estou presa na dor. A dor que é, por tua causa, consequencia. Então, me mantenho firme. Em minha dimensão de dor. Culpando-te. E pedindo-te:
Não volte, não volte, não volte, não volte... E talvez,
só talvez, sendo um
pouquinho mais sincera que o usual, orando baixinho que
me desobedeças. Porque quero largar os dias masoquistas que passei ao teu lado em teus braços.
Com toda a minha
dor coragem, Alice.