segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Amor,

        Hoje parecia que o relógio estava parado e eu estava presa em uma dimensão do tempo em que só havia eu, você e a dor. Como sempre. Mas você era uma criação minha, eu era uma criação minha e a nossa dor era o que fazia aquela dimensão parecer tão real, embora também fosse uma criação minha. Abracei meus joelhos e me vi um feto, ainda preso ao útero, sem poder sair. Estava em posição fatal e meu coração tremia. Minhas mãos estavam tão frias que até meu próprio toque doía em mim. Geralmente era você que me cuidava quando essas coisas aconteciam, mesmo quando eras o culpado. Gostaria de saber como estás, mas não tenho coragem de ir atrás de você... Não depois de minha última carta. Te pedi que não voltasse, que não se atrevesse, não posso ir até você. Até porque estou presa. Estou presa na dor. A dor que é, por tua causa, consequencia. Então, me mantenho firme. Em minha dimensão de dor. Culpando-te. E pedindo-te: Não volte, não volte, não volte, não volte... E talvez, talvez, sendo um pouquinho mais sincera que o usual, orando baixinho que me desobedeças. Porque quero largar os dias masoquistas que passei ao teu lado em teus braços.

                                         Com toda a minha dor coragem, Alice.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Amor!

- Por que gostas tanto de escrever sobre o amor?
- Porque o amor é coisa mais corriqueira que existe.

Amélia e Henrique.

- E o amor, Amélia?
- O que tem o amor?
- Você também não acredita nele?
- Claro que acredito no amor, só não acredito no seu amor.
- Por quê?
- Porque você me conhece há tanto tempo e só agora cismou de me amar.
- Eu amei você desde que te vi pela primeira vez.
- Você se lembra disso?
- Sim. Foi há dois meses atrás e você usava uma trança no cabelo.
- Mas nós nos conhecemos há anos, Henrique...
- Mas só naquele dia eu te vi.
- E então você passou a me amar?
- Não.
- Não?
- Não. Só ali eu percebi que venho te amando há muito tempo.
- Quanto tempo?
- Não sei. O fato é que amo.
- Ama mesmo?
- Já não disse que amo!
- Se me amas... Ama-me.
- Amo.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Eles no Café.

Eles caminham pelas ruas sozinhos e parece que nunca estiveram próximos a alguém. E, então, em algum dia eles se encontrarão em um café, vai estar chovendo lá fora e os cabelos ruivos dela estarão caindo no rosto, ela pedirá um chocolate quente e se sentará em uma das mesinhas. Ele estará sentado frente à mesa dela e deixará escapar um sorriso. As bochechas dela ficarão rubras, afinal, ela nunca vira um sorriso tão lindo sorrindo para ele. Ele a achará ainda mais linda depois daquilo. Ela pegará o livro guardado na bolsa apenas para fingir que não está observando já ele não fará questão de mostrar discrição. Ela vai amar isso nele. Ele se levantará, levará o café que ainda está tomando e sentará na mesa dela. Se apresentará e ela ficará meio boba enquanto fala seu nome. Ele fará um comentário inteligente sobre o livro que ela está lendo e ela rirá das piadas dele. Ele achará cada mínimo trejeito dela adorável e ela ficará viciada no som da voz dele chamando seu nome. Eles conversarão sobre um monte de coisas e descordarão mais do que concordarão, ele vai admirará-la por isso e ela achará que não existe ninguém no mundo que a prenda em uma conversa como ele. Eles sairão daquele café juntos e parecerá que nunca estiveram sós.